Hoje foi um dia muito bom. Sabe quando tudo parece dar certo? Acordei com meu pai e minha irmã me convidando para almoçar com eles. Coisa rara. Detalhe: minha irmã havia chegado de viagem e bateu na porta do meu quarto para me dar um beijo. Coisa mais rara ainda.
Moro eu, meu pai e minha irmã. Tenho dois irmãos que não moram comigo. Minha mãe morreu há 10 anos. Mas parece que foi ontem, ainda não consegui me acostumar. Eu não fico chorando pela ausência da minha mãe. Acredito que isso faça mal a ela e, por isso, procuro encara a morte dela com naturalidade. Uma naturalidade espírita. Afinal de contas, daqui a pouquíssimo tempo, quando eu desencarnar, estarei novamente ao lado dela. Não quero atrasar a evolução espiritual de minha mãe e compreendo que a morte não existe. É uma passagem. Então para que sofrer? Já perdi um grande amigo, anos depois de perder a minha mãe. Engraçado, parece que senti mais a dor da perda desse amigo do que a dor da perda da minha mãe. Uma vez, a mãe desse meu amigo me disse a mesma coisa. Ela me disse que, para ela, era como se ela sentisse mais a perda da minha mãe do que a do filho dela. Então deve ser uma espécie de defesa do nosso organismo, sei lá. Eu sei dizer que, após a morta da minha mãe, eu comecei a beber muito. Talvez para esquecer, vai saber.
Eu ficava na internet. Navegava no MIrc. Eu comecei a criar uma personagem. Essa personagem foi se tornando real. Era um ex-dependente químico. Ele tinha um filho. Eu fui acreditando tanto nessa personagem. O fato é que comecei a embarcar nessa "loucura". Levei a personagem para a cama e quase foi fatal. Eu comecei a beber muito. Uma garrafa de vodca por dia. Eu ficava doidão o dia todo. Acordava e, antes de ir pra faculdade, já estava alcoolizado. A percepção do mundo, tudo foi ficando diferente. Eu pensava no álcool. Depois pensava no que eu iria fazer. Se não desse para eu beber, simplesmente eu não ia. Fui escondendo da minha família isso tudo, não sei como. Se acabasse a bebida no meio da madrugada, lá ia eu caçar bebida, fosse onde fosse. Fiz coisas das quais não lembro, inclusive na internet. Cansei de ouvir das pessoas, nossa, briguei com você! E eu não lembrava de nada! Eu lembro de outras coisas bem tristes. Lembro do dia em que um amigo meu me deixou bebendo sozinho em um bar. Ele disse, tchau! Chega! E foi embora. Eu fiquei com ódio, na hora, mas eu queria era beber mais. Eu lembro do dia em que meu pai me viu vomitar na cozinha e teve que me dar banho. Eu me lembro do dia em que eu acordei vomitando e meu irmão virando a minha cabeça, para que o vômito não fosse para o meu nariz. E até hoje eu não sei como cheguei em casa. Eu me lembro do dia em que eu estava muito bêbado e queria me jogar pela janela. Eu queria morrer. Eu queria me matar. E meu pai e meus irmãos viram tudo. E nesse dia, eu botei os meus bichos todos para fora. Eu falei de coisas do passado. De quando eu sofria de bullying. Eu me lembro que foi como se eu estivesse vomitando toda a dor que senti e guardei para mim durante anos.
Porque a minha infância não foi normal, a minha adolescência não foi normal. Eu sofria preconceito e agressões verbais e físicas, com o consentimento de alguns professores e de parte da direção da escola. Em casa, eu precisava descontar em alguém. Era nos meus irmãos. Aí minha mãe ficava brava, brigava comigo. E quando o meu pai estava em casa era só briga. Ele pegava no meu pé. Ele não aceitava o meu jeito. Até hoje eu não sei se ele aceita. Então foram anos vivendo um sofrimento, uma tortura psicológica e sem falar nada para ninguém. Eu acreditava, até uma certa idade eu acreditei nisso, que no futuro tudo iria ser diferente. Eu iria ser reconhecido. Eu iria mudar. Brilhar. Eu seria um ator conhecido. Um cantor, sei lá. Mas o tempo foi passando, passando... E eu fui envelhecendo. Envelhecendo sem conseguir chegar a lugar nenhum. Eu tentei ser ator. Eu tentei ser cantor. Eu tentei ser doutor, tentei algumas faculdades. Mas eu ia parando. Eu desistia. Eu não conseguia concluir nada.
Por causa disso tudo eu tenho medo de parar o tratamento que estou fazendo agora, como já contei em posts anteriores. Porque pode ser que seja demorado mesmo e eu esteja com pressa. Porque pode ser que eu esteja, mesmo sem perceber, arrumando desculpa pra abandonar o tratamento.
Aí ontem estava lendo um livro sobre depressão e o escritor (um psiquiatra e psicanalista) falava da importância fundamental da psicanálise e da psiquiatria no tratamento da depressão. Aí, pronto, fiquei mais calmo. Mais uma vez precisei de algo externo para me dizer, olha, você tá no caminho certo. Não encontrei resposta com meu pai e nem com meus irmãos. Ainda estou na dúvida sobre a eficácia do tratamento que estou fazendo, mas ler aquele livro me fez bem. O livro chama-se "Depressão, Fé e Transtornos Mentais - O que você deve e precisa saber", do Paulo Miguel Velasco (ed. Livre Expressão).
Ontem eu também fiz preces com mais fervor e aconteceu de eu achar uma prece que me fez um bem danado, como contei em um post anterior. Então, por isso tudo, acordei bem. Aí, para completar, o meu pai me disse que foi a uma cartomante e que ela disse a ele que eu tenho uma ligação espiritual muito forte com a minha mãe ainda. E que é isso que está me atrapalhando. Que o ano que vem é um ano em que eu irei brilhar. Que o que estou passando é, na verdade, espiritual. Olha, claro que não vou abandonar tratamento nenhum. Mas estou mais esperançoso. Vai que eu vou nela e consigo uma ajuda espiritual. Sei lá. Espero que dê tudo certo. Por isso tudo que eu contei, estou feliz. Posso sonhar um pouco? Acreditar? Acho que sim, né? Eu não me permito sonhar, imaginar um futuro melhor. Mas nessa madrugada eu vou tentar. Espero conseguir. Confiando em Deus, sempre!