sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Mudança


O blog mudou de endereço. Você pode comentar lá: http://vivendocomdepressao.zip.net/

Ela pode

Eu sei que o vídeo foi postado pra meter o pau na atriz. Não quero entrar no mérito, até porque isso não interessa ao blog. Mas o fato é que eu morri de rir com esse vídeo. No início, mostra uma suposta brincadeira feita pela atriz com uma da apresentadoras e repórteres de um programa da mesma emissora em que ela trabalha. Digo brincadeira, porque ela mesma teve a oportunidade de se retratar, falando isso, ao ser entrevistada mais uma vez pela mesma repórter. Mas eu postei o vídeo por causa do final. No final do vídeo, a talentosa atriz Susana Vieira diz que 44% dos internautas brasileiros dizem que ela "se acha". E ela diz isso de maneira dedochada. Termina com um "amores, eu posso". E pode mesmo.




A veterana atriz tem 67 anos e está muito bem, obrigada com o seu corpo. Além de ser uma das maiores estrelas da TV brasileira, Susana não se intimida em debochar dela própria. Na minissérie "Cinquentinha" (Rede Globo) ela é Lara Romero, uma atriz decadente, que esconde a idade e vive de aplicar botox. Susana não se contrange em aparecer de roupa íntima e muito menos em interpretar uma atriz arrogante, como muita gente diz que ela é na vida real.


Eu tive a oportunidade de ouvir coisas boas a respeito da atriz. Uma vez ela foi muito gentil com uma pessoa da minha família, que estava passando por uma situação difícil. Isso, sem nunca tê-la visto. Mas o fato é que eu admiro essa autoestima toda. Melhor excesso de autoestima do que baixa autoestima.


Sabe, eu queria ter mais confiança em mim mesmo. Nem sei quanto tempo faz que dei um mergulho na praia. Não gosto de tirar a roupa na frente dos outros. Ficar sem camisa é um horror. Sempre fico contrangido em ir ao médico, às vezes até evito de ir por causa disso. A depressão abre o meu apetite e eu engordo. Estou um pouco acima do peso. Mas sei lá, a comida acaba sendo um dos meus poucos prazeres. Então não dá pra ser perfeito em tudo. Mas sabe, bem que eu queria desencanar e ter o meu dia de Susana Vieira. E olha que eu tenho menos da metade da idade dela...

A Música na Cura da Depressão

Para sair de uma situação depressiva é imprescindível ter atitudes que busquem caminhos, e após encontrá-los, seguir em frente. Dentre os tratamentos para a depressão a musicoterapia é forte aliada. No silêncio da alma, a canção é um convite a reencontrar o sentido de viver. As ondas sonoras invadem o cérebro e desbloqueiam os neurônios, de tal modo, os sentimentos se modificam, ressoando em todo o corpo. No entanto, a música não se restringe apenas à mente física, excedendo a dimensão corporal atingi planos superiores e proporciona mudanças significativas no ser, tendo o poder de libertar, curar, emocionar, descontrair, enfim, transformar!
O filósofo alemão Arthur Schopenhauer vê na arte a possibilidade de transcendência, sendo que a música ocupa o mais alto patamar, segundo ele: “a música, por ser independente de toda imagem externa, é capaz de nos apresentar a pura Vontade em seus movimentos próprios; a música é, pois, a própria vontade encarnada”. Não há gênero definido, basta ouvir o que se gosta e se envolver com a melodia para que os efeitos terapêuticos sejam notados. Dos ritmos mais eletrizantes aos mais suaves, o que importa é deixar o espírito dançar e porque não, ao mesmo tempo, o corpo...
Para os casos de estresse, tensão e ansiedade o ideal é o estilo New Age, também conhecido como música do terceiro milênio. Composições acrescidas de cantos de pássaros e murmúrios da natureza induzem a mente a um estado de relaxamento. E a contemplação sugere um passeio pelo cosmo. Tendo as estrelas e o infinito como pano de fundo, as emoções levitam deixando o tempo se desenrolar lentamente, sem pressa... Os encantos e desencantos, a amargura e o deleite se dissolvem nos compassos e descompassos da música que nada mais é que, a vida se manifestando em forma de sons...

J. Antonio Séspedes - autor do livro: Depressão, um beco com saída-www.outonos.com.br

Fonte: Portal Jornal do Povo Três Lagoas

Dieta mediterrânea pode reduzir risco de depressão

Mais uma notícia relacionando depressão a alimentos:

A dieta mediterrânea é conhecida como uma das mais saudáveis. Recentemente pesquisa apontou que os alimentos reduzem a probabilidade de que pacientes recém-diagnosticados com diabetes tipo 2 precisem de tratamento medicamentoso. E agora a lista de benefícios acaba de aumentar. De acordo com uma pesquisa publicada neste mês no Archives of General Psychiatry, periódico da Associação Médica Americana, esse tipo de culinária diminui o risco de depressão. Saiba mais clicando aqui.

Dieta do bom humor emagrece e ainda ajuda a combater a depressão

Eu não sou de acreditar muito em livros que contém a formula mágica contra doenças, tipo cure-se do cancer commendo tomate ou emagreça se alimentando de luz. Mas eu li há um tempo atrás na revista “Saúde! (Abril) que determinados alimentos ajudam no combate à depressão. Lembro-me de dois: chocolate amargo e duas banas por dia. Então se você se interessa por alimentação saudável e que, ainda por cima, ajuda no combate à depressão, talvez essa notícia seja interessante:

A nutricionista Susan Kleiner criou um regime alimentar que segundo seu livro “Emagreça com bom Humor” (Larousse), faz você perder peso e ajuda na luta contra a depressão. Mais detalhes, inclusive com os alimentos certos estão aqui!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Pirando o cabeção

Na segunda-feira fui a uma cartomante. Me disseram para eu ir. Fiquei um pouco apreensivo, mas acabei gostando. Ela não me disse nada além do que eu já sei. Mas ela me disse coisas que, só me conhecendo muito, conhecendo a minha cabeça, o meu coração e a minha alma é que é possível saber. Então eu levei fé. E ela me disse que essa depressão está associada a duas coisas: um desequilíbrio energético e uma ligação muito forte que eu tenho com a minha mãe, que já morreu. E me disse coisas bacanas como: ano que vem é será meu ano e em breve surgirá um amor que vai "pirar meu cabeção".

Então eu saí da casa dessa cartomante com o cabeção pirado, nas nuvens... Um amor! Um novo amor. Porque eu nunca namorei. Sério, estou com 30 anos e nunca namorei. Tenho um vida sexual praticamente inativa. Preciso mesmo me abrir pro mundo, deixar a energia sexual fluir. Essa minha assexualidade, ou quase assexualidade pode se explicar por vários fatores. Mas não tem uma explicação exata.

Desde muito novo, sempre achei meu pênis pequeno. Sei que isso é motivo de preocupação de muitos homens. Mas o problema é que essa preocupação tornou-se um medo patológico. E eu cresci assim, achando que meu pênis é pequeno. Me sentindo menos potente com relação aos outro meninos. Menos viril. Menos forte. Menos homem. Tudo por causa do meu pênis, tadinho. Aí, tá vendo, já comeceu a trata-lo no diminutivo. Assim fica difícil, né? Bom, mas voltando ao assunto principal, essa precupação com o tamanho do meu pênis tornou-se um pânico de transar. Eu até posso transar. Posso fazer sexo oral, anal, mas deixar o parceiro ver meu pênis não! Parceiro sim, sou gay pra quem pegou o "blog" andando e quer sentar na janelinha. E isso tornou-se um agravante. Eu pensei várias vezes, nossa, se eu fosse hétero seria mais fácil. Porque mulher não se preocupa tanto com o tamanho do dito cujo quanto os gays. Sim, são clichês, mas eu passei a acreditar nisso como uma regra para todos! Talvez para tentar justificar esse pânico para mim mesmo. Aliás, se alguém souber o nome de pânico de transar, me diga.

E fui crescendo assim, com medo. E esse medo me atrapalhou muito. Atrapalhou o meu desenvolvimento. Sim, porque eu precisava frequentar lugares gays, conhecer gays e começar a minha vida sexual de maneira saudável. Só que eu associava boate a homens sedentos por sexo e sexo ao meu "micro" pênis. É claro, a boate não poderia ser um lugar interessante. Então minha vida sexual foi sendo deixada de lado. Até porque eu não encontrava solução para essa questão do pênis.

Eu procurei soluções: fui a mais de um urologista. Passei pela situação constrangedora de ter o pênis medido com uma régua e, então o urologista rindo, dizer que meu pênis tem o tamanho normal, que não se faz cirurgia para aumento de pênis. Que só no sul tem esse tipo de cirurgia, mas que ele não aconselha. Enfim, acho que o problema está na minha cabeça.

E como a gente resolve esse medo? Enfrentando, certo? Certo! Nossa, então é muito fácil! Basta eu encontrar um cara que esteja com vontade de transar comigo e pronto. Finjo que tô sem medo e encaro. Na teoria as coisas são tão fáceis... Mas o fato é que eu não troco de roupa na frente de ninguém. Eu não tomo banho na frente de ninguém. Ninguém me vê nu. Então fica difícil ir muito além da masturbação. E sempre que tenho relação sexual (nunca completa, com o outro vendo meu pênis) é com pessoas que eu sei que não acrescentam nada a mim. Talvez como uma punição por esse pânico. Talvez por carência.

Enfrentar causa medo, é difícil, mas fugir é sempre muito pior. Resolvi abordar essa questão da falta de sexo aqui, porque ela está ligada a minha depressão e, também, porque eu tenho certeza que não estou sozinho nessa história. Muita gente é mal resolvida na área sexual. Acho um bom passo compartilhar isso com vocês. Sim, já estou falando com o meu psicanalista sobre isso. Então espero que até o surgimento desse amor que vai "pirar meu cabeção", eu esteja mais desencanado com relação a essa questão.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Bullying

Recentemente, li no jornal O Globo, artigo de um psiquiatra a respeito do bullying. Não colei aqui, pois o jornal não permite. Existem diversos artigos a respeito desse tipo de violência na internet. Eu fui vítima durante anos. Deixa marcas, sequelas talvez incuráveis. Estou me preparando para escrever sobre isso, pois as lembranças doem. Mas será preciso escrever sobre isso aqui, senão o blog ficará incompleto. E a minha proposta é dividir com vocês um pouco da minha experiência. Mas hoje ainda não me sinto forte o suficiente para escrever sobre a minha longa e torturante experiência... Deixo um vídeo forte a respeito do tema. É sério. É uma realidade. Acontece até hoje, todos os dias. É para a gente pensar.


Notícias fresquinhas

Gosto de pesquisar notícias sobre a minha doença. Afinal de contas, se informar é uma maneira de combater o preconceito. Vou postar algumas notícias que julgo interessantes:

*10% dos idosos portugueses sofrem de depressão. Clique aqui e leia mais. Já falei sobre esse tema aqui no blog. Caramba, tanto idoso precisando de carinho... Amanhã estarei com meus avós. Vou enche-los de beijos e mimos!

* Depressão é mais comum em homens com síndrome metabólica. Clique aqui e leia mais. Nem sabia que existia essa síndrome, confesso.

Mais um dia

Novo dia. Novos planos? Não. Não tenho novos planos, pois não vejo horizontes novos. É um novo dia e as perspectivas são exatamente as mesmas. Então fica difícil... Amanhã terei um almoço para ir. Mesmas pessoas: família. Já sei o roteiro de cor.

Hoje, sexta-feira, queria tanto fazer algo... Mas o quê? Com quem? É, fica difícil. Não tenho amigos, este é um fato. E este fato pesa. Porque ir ao cinema sozinho pela terceira vez na semana é triste demais. Não. Não gosto de sentir pena de mim mesmo. Não quero me fazer de vítima. Não é do meu feito. Mas o fato é que, quando acaba a sessão vem a sensação de estar sozinho. Parece que falta algo. E ver aquelas outras pessoas sozinhas no cinema é tão triste. Mesmo assim, é melhor vê-las do que ver casais no cinema sexta-feira à noite. São muitos beijos e amassos. Melhor deixar o cinema para outro dia. Semana que vem. Ficar aqui no meu cantinho, talvez seja a solução. É verdade, já sei o roteiro daqui do meu ap. Mas sei lá, me sinto mais acolhido. Se não fosse meu pai aqui... É porque podem surgir cobranças dele. E estou farto de cobranças.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Queridas leitoras

Até agora só recebi postagem de leitoras. Às vezes eu fico meio sem jeito em lidar com o sexo oposto. Meu psicanalista está tendo dificuldade em encontrar acompanhantes terapêuticos do sexo masculino, para me ajudarem a fazer as atividades do dia a dia de tarde. É que a maioria é do sexo feminino. Quem sabe não começo vencendo esse obstáculo aqui? Obrigado a vocês leitoras! Muito obrigado pelos comentários! Deixo uma mensagem pra vocês!

Pensamento positivo

Ontem fui ao psicanalista outra vez. E foi muito bom. Estou com as energias renovadas. Acordei pensando em ir a um musical que quero muito assistir. Pensei em convidar o meu irmão, mas logo imaginei que ele pudesse não querer ir. É que ele já recusou esse tipo de pedido algumas vezes. Também pensei em ir ao cinema ou ao Jardim Botânico. Não sei se vou fazer essas coisas. Muitas vezes penso, penso e não faço. Mas o fato é que estou pensando positivamente! Isso já é um bom sinal!

Depressão em soropositivas e depressão pós-parto

Reportagem do Globo Online mostra pesquisa que revela que “entre as mulheres soropositivas, 33% afirmaram ter grau intenso ou muito intenso de tristeza ou depressão” (clique aqui para ler na íntegra). Isso é mais uma prova de que o preconceito é um dos pais da depressão. Um dos pais, porque depende do caso.


O blog Nave Mãe traz um post interessante chamado "A Terrível depressão pós-parto" (clique aqui para ler).

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O que a depressão pode nos dizer sobre o mundo em que vivemos?












O depressivo na contramão
ELIANE BRUM
 Reprodução
ELIANE BRUM
ebrum@edglobo.com.br
Repórter especial de ÉPOCA, integra a equipe da revista desde 2000. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de Jornalismo. É autora de A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua (Globo)
Em seu último livro, O Tempo e o Cão – a atualidade das depressões (Boitempo, 2009), a psicanalista Maria Rita Kehl nos provoca com uma hipótese sobre a qual vale a pena pensar: a depressão, que vem se tornando uma epidemia mundial desde os anos 70, pode ser a versão contemporânea do mal-estar na civilização. Ela teria algo a dizer sobre a forma como estamos vivendo e sobre os valores da nossa época. Para além da patologia, a depressão pode ser vista também como um sintoma social.


O que nossa época nos exige? Euforia, confiança, velocidade. Temos de ser pró-ativos. O que ela nos promete? Se soubermos traçar nossas metas e construir nossa estratégia, atingiremos o sucesso. Se produzirmos e consumirmos, alcançaremos a felicidade. Ser feliz deixou de ser uma possibilidade esporádica para se tornar uma obrigação permanente. Para nós, seres desta época, nada menos que o gozo pleno. Fora disso, só o fracasso. E o fracasso, este é sempre pessoal. Se não alcançamos o que nos prometeram no final do arco-íris é porque cometemos algum erro no caminho. E fracassar, como sabemos, passou a ser não um fato inerente à vida, mas uma vergonha. 


O depressivo, neste contexto, é a voz dissonante. É o cara na contramão atrapalhando o tráfego, como na letra de Chico Buarque. Como diz Maria Rita, é aquele “que desafina o coro dos contentes”. Ela afirma, logo no início do livro: “Analisar as depressões como uma das expressões do sintoma social contemporâneo significa supor que os depressivos constituam, em seu silêncio e em seu recolhimento, um grupo tão ruidoso quanto foram as histéricas no século XIX. A depressão é a expressão do mal-estar que faz água e ameaça afundar a nau dos bem-adaptados ao século da velocidade, da euforia prêt-à-porter, da saúde, do exibicionismo e, como já se tornou chavão, do consumo desenfreado”. 


Neste sentido, a mera existência do depressivo aponta, nas palavras da psicanalista, a má notícia que ninguém quer saber. Se basta ser pró-ativo, bem-sucedido e saudável, por que tantos e cada vez mais, como mostram as estatísticas, são classificados como depressivos? 


“A depressão”, diz Maria Rita, “é sintoma social porque desfaz, lenta e silenciosamente, a teia de sentidos e de crenças que sustenta e ordena a vida social desta primeira década do século XXI. Por isso mesmo, os depressivos, além de se sentirem na contramão do seu tempo, vêem sua solidão agravar-se em função do desprestígio social da sua tristeza”. 


Cada época cria seus proscritos. Na época da euforia e da velocidade, nada mais desafinado do que um depressivo. Se, em vez de hoje, o depressivo, então chamado de melancólico, vivesse no romantismo do final do século XVIII, “estaria tão adequado à cultura e aos valores de sua época quanto um perverso hospedado no castelo do marquês de Sade”.


Hoje, porém, os depressivos parecem ser não só o portador de uma má notícia, mas de uma doença contagiosa. Quem quer ter por perto alguém que sofre em um mundo cuja existência só se justifica pelo sucesso e pela felicidade plena? Num mundo em que todos têm de estar “de bem com a vida” para merecer companhia? 


O depressivo não apenas sofre, mas silencia num mundo em que as pessoas preenchem todos os espaços com sua voz. E não apenas silencia, mas em vez de preencher seu tempo com dezenas de tarefas, uma agenda cheia, se amontoa no sofá da sala e nada quer fazer. Não só é lento, como chega a ser imóvel. Sua mera existência nega todos os valores propagandeados dia após dia ao redor de nós – e também pelo nosso próprio discurso afirmativo e de auto-convencimento. 


Ao existir, o depressivo faz uma resistência política passiva ao establishment. Obviamente, ele não é um ativista nem tem consciência disso e preferiria não sofrer tanto. O que Maria Rita nos propõe é enxergar a depressão para além dos aspectos clínicos. Enxergar também como sintoma da sociedade em que vivemos. Como a ótima psicanalista que é, o que ela nos propõe é ouvir. Neste caso, ouvir o que a depressão tem a nos dizer quando escutada como sintoma social, como expressão de um mal-estar no mundo. 


Os medicamentos podem fazer enorme diferença nas depressões graves num primeiro momento, para arrancar da apatia e possibilitar uma elaboração dessa dor que permita lidar com a vida de uma forma menos paralisante. Inclusive para romper com o imobilismo e buscar uma escuta pela psicoterapia ou pela psicanálise. Os medicamentos antidepressivos têm sua hora, seu lugar e sua importância. Mas acreditar que a medicação resolve tudo é calar a dor de quem a vive. E, no âmbito social, é ignorar o que ela diz sobre o que há de torto em nosso mundo. 


Afirmar que a indústria farmacêutica resolve tudo é silenciar o impossível de ser silenciado, como prova a escalada das estatísticas da depressão. Na esfera social, significa dizer que é uma ótima vida correr desde que acorda até a hora de dormir, sem ter um minuto sequer para elaborar o que de bom e de ruim viveu naquele dia. Sem tempo para viver a experiência. Ou, como diz Maria Rita, vivendo no tempo do Outro. 


Acreditar que a epidemia mundial de depressão pode ser erradicada com pílulas é afirmar que no nosso mundo nada falta. E um pouco mais grave que isso: é acreditar não apenas que é possível atingir uma vida em que nada falte, como atingi-la é uma mera questão de adaptação, pró-atividade e saúde. 


No âmbito do indivíduo, tratar a depressão apenas com medicamentos é tornar ilegítima a sua dor. É dizer ao depressivo que o que ele sente não merece ser ouvido porque é produto apenas de uma disfunção bioquímica. É reforçar a crença de que o depressivo não tem nada a dizer sequer sobre ele mesmo. É cristalizar o estigma. Sem contar que tentar calar os sintomas da depressão à custa de remédios leva ao embotamento da experiência, ao esvaziamento da subjetividade. O que se sente é silenciado – e não elaborado. E, ainda que alguém achasse que vale a pena se anestesiar da condição humana, o efeito do remédio, como bem sabemos, é temporário. 


Para algumas pessoas, encontrar médicos que resolvem tudo apenas com pílulas vai ao encontro de suas próprias crenças – e de sua necessidade de proteção. É mais fácil acreditar ser vítimas de uma doença, uma disfunção que está fora deles, a pensar que é um pouco mais complexo e mais difícil de lidar do que isso. É mais fácil do que aceitar que ele, como sujeito psíquico, está implicado neste mal-estar. Eu tomo remédio e não preciso pensar que algo me incomoda. Eu engulo uma pílula e não preciso lidar com a inadequação que me faz sofrer. 


É possível compreender que, para quem já está na contramão do mundo e é visto muitas vezes como um estorvo, ajuda não ter ainda mais essa “culpa”. Tranqüiliza pensar que aquela dor que está sempre ali foi causada por uma disfunção involuntária dos neurotransmissores. E que pode ser resolvida com um comprimido. 


O problema é que a realidade mostra que não é tão simples assim. Quem já fez tratamento com antidepressivos sabe que “curar” uma depressão não é o mesmo que tratar de uma micose ou mesmo de uma pneumonia. Não basta tomar remédio: é preciso expressar a dor, é necessário elaborar o sofrimento e, em geral, mudar a vida ou a forma de olhar para a vida e para si mesmo. 


Ao conversar com minha filha, também psicanalista, sobre esse tema, ela fez um comentário que cabe neste contexto. “É curioso como os filmes de ficção científica sempre usaram aquela imagem terrorífica de seres humanos levando uma injeção na nuca e se tornando embotados. Isso era assustador e nos assustava”, disse. “Agora, o que assustava passou a ser a vontade das pessoas. Elas querem tomar uma pílula, ou uma injeção na nuca, e ficar embotadas.” 


Maria Rita sugere que vale a pena para todos – e não apenas para os depressivos – pensar o que a depressão está nos dizendo sobre nosso mundo. É isto ou continuar assistindo, impotentes, ao crescimento da epidemia, que atinge não apenas adultos, mas adolescentes e crianças, cada vez mais cedo. É preciso prestar atenção nesse mal-estar no mundo, escutá-lo, de verdade e com verdade, sem cair nos contos de fadas contemporâneos que transformam todos os monstros em déficits bioquímicos. Ao contrário de todas as profecias, a indústria farmacêutica não vai nos salvar de uma vida sem vida. 


O livro de Maria Rita Kehl é complexo e vai muito além destas minhas primeiras interpretações. Uma das questões mais originais é a relação entre a depressão e o tempo. O depressivo seria também aquele que se recusa a se inserir no tempo do Outro. O nome do livro – O Tempo e o Cão – vem da experiência pessoal da psicanalista, ao atropelar um cachorro na estrada. Ela viu o cachorro, mas a velocidade em que estava a impedia de parar ou desviar completamente dele. Conseguiu apenas não matá-lo. Logo, o animal, cambaleando rumo ao acostamento, ficou para trás no espelho retrovisor. 


É isso o que acontece com as nossas experiências na velocidade ditada pela nossa época. Diz Maria Rita: “Mal nos damos conta dela, a banal velocidade da vida, até que algum mau encontro venha revelar a sua face mortífera. Mortífera não apenas contra a vida do corpo, em casos extremos, mas também contra a delicadeza inegociável da vida psíquica. (...) Seu esquecimento (do cão) se somaria ao apagamento de milhares de outras percepções instantâneas às quais nos limitamos a reagir rapidamente para em seguida, com igual rapidez, esquecê-las. (...) Do mau encontro que poderia ter acabado com a vida daquele cão, resultou uma ligeira mancha escura no meu pára-choque. (...) O acidente da estrada me fez refletir a respeito da relação entre as depressões e a experiência do tempo, que na contemporaneidade praticamente se resume à experiência da velocidade”. 


Por coincidência, estava zapeando na TV ontem à noite (domingo), quando encontrei a psicanalista no Café Filosófico da TV Cultura, um dos melhores programas da TV aberta. Lá, ela fez algumas considerações muito interessantes. Anotei duas delas para acrescentar a esta coluna. “Nos dizem que ‘tempo é dinheiro’. Ora, tempo não é dinheiro. Dizer que tempo é dinheiro é uma violência”, afirmou Maria Rita. “Tempo é o tecido de nossas vidas”. E um pouco mais adiante: “Em qualquer sociedade, o poder se instaura por alguma forma de controle do tempo”. 


Quem quiser ler o livro de Maria Rita Kehl precisa saber que é um livro difícil. Não se lê fácil como uma daquelas obras de auto-ajuda. Exige tempo, parada, reflexão. Para quem é leigo, é preciso ler e reler alguns trechos, voltar. Talvez até pular algumas partes que, depois de ler e voltar e reler, ainda assim não alcançamos. Mas vale todo o esforço. 


Aprendi algo sobre isso, na semana passada, ao ouvir Benjamin Moser, autor da recém-lançada (e excelente!) Clarice, (CosacNaify, 2009), uma biografia de Clarice Lispector. Ele contou que os livros que mais gosta da escritora são os mais difíceis, aqueles que teve de ler para escrever a biografia, e não os primeiros que leu e compreendeu de imediato. Então, disse algo mais ou menos assim: “Os escritores têm de nos alcançar, mas nós também temos de alcançar os escritores”. 



Achei genial. E acho que é isso. Vale a pena essa busca para alcançar alguns escritores e suas vozes a princípio obscuras. Alcançar alguém é sempre uma experiência rica – e intransferível. O livro de Maria Rita Kehl, assim como os livros mais estranhos de Clarice Lispector, vale porque ao final deste esforço há uma voz original, dissonante de todas as mesmices que ouvimos – e eventualmente repetimos. 



Para mim, que acordo todos os dias – e especialmente na segunda-feira – pensando em como não sentir mal-estar em um mundo tão brutal, que exige uma velocidade que me rouba a vida, fez todo o sentido. Só consigo viver por que a cada dia minha questão crucial não é me adaptar a um tempo que não é o meu. Mas encontrar formas de me recusar a viver segundo valores que para mim não fazem sentido. É esta busca – e esta insubordinação – que me mantém em pé, ainda que cambaleando, às vezes, como o cachorro atropelado por Maria Rita, e até caindo, de tempos em tempos. 



Dias atrás, ao conversar com meu amigo Toco Lenzi, um homem que como poucos recusa os valores e a velocidade desta época, ele me contou uma história de sua última passagem pelo Saara, na Mauritânia, que cabe aqui. Toco atravessa o Saara a pé, da Mauritânia a Tunísia, em etapas e sem nenhuma pressa, com nenhum outro objetivo além de viver a experiência de atravessar o Saara a pé. Eu o acompanhei na primeira parte desta jornada para escrever um livro que ainda está no começo. 



Toco conheceu um tuaregue que havia deixado o Saara e vivido – muito bem – na Europa. Apesar do que teria sido considerado um sucesso pela maioria de nós, ele resolveu voltar ao deserto e ao antigo modo de vida. Toco perguntou a razão. Ele respondeu: "Vocês têm relógio, nós temos tempo".



(Eliane Brum escreve às segundas-feiras.) Você pode comentar na coluna dela, clicando aqui! Mas não deixe de comentar aqui no blog!

Permitir-me

Hoje estou um pouco apreensivo. Minha irmã vai viajar. Ficarei eu e meu pai outra vez. Agora a namorada dele também estará aqui. Ela havia viajado na semana passada. Mas estamos em uma fase boa, então não há um motivo para tanta apreensão. Pelo menos eu consegui vencer esse medo. De manhã cedo saí da cama, fiz o meu café-da-manhã, já encontrei o meu pai e a minha irmã, que está se preparando para viajar. E só coisas boas aconteceram.

Então parei para refletir como eu trago comigo sensações de fatos passados. É como se eu estivesse condicionado às brigas e discussões, que já aconteceram tantas vezes. Com clareza a respeito disso, quando meu pai me chamou, ao invés de responder com má vontade, respondi desarmado. Preciso disso, sabe? Estar desarmado. Desarmado para a vida. Enxergar em cada um dos meus companheiros da jornada terrena um irmão. Um espelho de mim. Colocar-me no lugar deles, quando eles errarem. Será que eu não agiria da mesma maneira? Tentar levar a vida com mais leveza. Mais amor. Amor pela vida. Preciso associar o amor pela vida e pelas pessoas ao amor-próprio. À consciência do meu próprio valor. Agir acreditando em mim. Porque estar desarmado para a vida é estar aberto a novas possibilidades, novos sabores. Preciso disso. No momento, acho que é o que eu mais preciso. Mas para isso é preciso me permitir!

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Psicanalista, cinema, livraria

Enfim, fui ao psicanalista. Resolvi dar mais uma chance a esse tratamento. Não vou mudar. Já mudei tanta coisa na minha vida. Tudo bem, as coisas não estão caminhando a passos largos, mas vou dar mais uma chance? A última chance? Não sei, não quero saber. Talvez eu nem precise de uma nova chance. Vou deixar as coisas acontecerem naturalmente. Tranquilo. Não vou me preocupar. Desarmado. Assim vou tentar.

E até que para o primeiro dia de tentativa eu fui bem. Fui ao psicanalista. Expus toda a minha preocupação com relação ao andar do tratamento. E, sobretudo, expus essa coisa de eu sempre desistir de tudo. Por isso, principalmente por isso eu resolvi tentar. E não quis focar só nas minhas dificuldades. Estava a fim de falar. Falei um pouco.

Depois, ainda desarmado, fui ao cinema. Tudo bem, até chegar lá, fiquei pesando coisas do tipo: mas será que vou ter que esperar muito tempo para assistir à sessão? E essa espera, como será? Mas como já havia ido a esse cinema, fiquei mais tranquilo. Comprei meia porção de pão de queijo, uma coca-cola e um chocolate. É, deixei a minha tentativa de fazer uma alimentação saudável de lado. Queria o pão de queijo? Acho que não. Mas fiquei sem graça de sentar e não comer nada. Enfim, ainda não estou 100% bem resolvido, né? Mas, depois de comer e beber, fiz uma coisa que queria ter feito há um tempo, fui até a livraria que fica no cinema. Entrei meio sem graça. Tudo me assustava na tal livraria: os livros, todos eles "cabeças", tá, vi livro de autoajuda, mas para mim, naquele momento só existiam os livros de arte, os clássicos e os de filosofia. Até os vendedores me assustaram. Fiquei com vergonha de perguntar sobre um livro que vi na vitrine. Então saí sem comprar nada, rapidamente, quase que com medo de ser observado. Como assim, entrar em uma livraria cult dessas e não comprar nada? Fui direto para a sala. Antes, passei no banheiro.

Chegando na sala, pronto, era só o que me faltava, uma mulher sentada no meu lugar. Mas, pasmem, com naturalidade, avisei a ela que aquele era o meu lugar. Ela ainda perguntou, contrariada, qual a fileira que eu queria sentar. Eu disse que havia comprado para a fileira E. Então ela levantou e disse o seguinte, comprei E 13. Eu disse, é do outro lado. Ela, mas eu prefiro esse lado, vou sentar aqui (ela sentou dois lugares depois de mim), se alguém reclamar eu levanto. Pronto, se fosse outra época eu ficaria achando que ela ficou irritada comigo. Mas não, olha só o que eu fiz, puxei assunto com ela! Sim, disse que estava impressionado com a faixa etária das pessoas que estavam ali para assistir "Lua Nova". Eu pensei que fosse encontrar o cinema lotado de adolescentes e encontrei senhores. Bom, fiquei sabendo que ela era professora de inglês etc. Achei o meu lugar muito na frente. Então levantei e fui pra outra fileira. Antes, avisei a ela. Ela continuou sentada, nem no meu lugar, que ela tanto queria, ela sentou. Acho que ficou esperando alguém reclamar, vai saber... E ninguém reclamou com ela e nem comigo. E o file foi um pouco cansativo, mas valeu.

Voltei com muito sono. É como se eu quisesse que algo tivesse acontecido. Mas é como se algo tivesse acontecido pela metade. Porque eu vi o filme, mas estava sem ninguém. Mas tinha tanta gente sozinha no cinema. Eu pensei, caramba, poderia sair daqui e jantar fora, mas não tinha companhia. Bom, mas antes de ir embora, passei na livraria outra vez, fui direto na parte de CDs. CDs assustam menos do que livro. Não tinha nenhum CD que eu realmente quisesse comprar. Mas acabei comprando dois. Não sei se por me sentir na obrigação de comprar algo, afinal de contas eu estava entrando pela segunda vez na livraria, embora os vendedores nem tivessem notado a minha presença, ou por causa do trânsito que eu iria pegar às 19h, hora da maldita Voz do Brasil. Na hora de pagar, o vendedor foi bem simpático. Nem me mordeu.

Depressão será abordada em novela da Globo

Vamos ver... Sempre fico apreensivo quando se trata de certos assuntos em programas como novela. Não é fácil abordar esse tema em uma novela. Mas, o fato é que a depressão entrará em "Viver a Vida" (Rede Globo), novela de  Manoel Carlos, de segunda a sábado, às 21h (hora de Brasília). Clique aqui e saiba mais.


Personagem de Babara Paz ficará depressiva

Energia renovada

Hoje acordei com a energia renovada. Uma vontade de sair, ver gente. Devo ir ao cinema mais tarde, depois do meu psicanalista. O fato é que, mesmo se eu não for ao cinema, não quero deixar essa chama se apagar. Quero pensar em coisas positivas. Ir curtindo a vida enquanto der. Ir seguindo o fluxo mental positivo. Ver as coisas com mais leveza.

Esse fim de semana foi agitado. Fui ao médico, visitar o meu avô, que fez uma operação. Foi um sucesso. Lá, minha avó veio com várias cobranças a meu respeito. Detalhe, na frente de uma prima que eu não tenho a menor intimidade. Eu abri o jogo, já que estava sendo exposto mesmo. Minha avó fez questão de dizer que tenho 30 anos e estou desempregado. Disse a ela que trabalhei desde os 17 e estou com uma doença chamada depressão. Falei tudo com a maior naturalidade. Senti, pelas expressões, tanto da minha avó, quanto dessa minha prima, que eu me expus. Elas ficaram pasmas, boquiabertas. Eu, que já sou escolado nesse tipo de cobrança e nesse tipo de comportamento que minha avó apresentou, resolvi continuar. Disse a essa minha prima que eu não tinha vergonha de dizer o que eu sentia, que era melhor encarar de frente os fatos. Ela concordou. Claro, foi chato ser exposto pela minha avó, mas já que ela estava fazendo cobranças, resolvi encarar numa boa. Acho mesmo que minha avó deveria se ocupar com a vida dela. Mas ela parece querer viver a minha vida. A minha vida, a vida dos meus irmãos, a vida dos filhos dela. Incrível como ela não percebe que, agindo assim, está afastando as pessoas do convívio com ela. Porque, na boa, quem é que vai querer conviver com uma pessoa que vive criticando os outros? Mas, por outro lado, ela jea fez tantas coisas boas pra mim... Quando eu fui expulso de casa, ela me abrigou numa boa. Eu sei que posso contar com ela para várias coisas. Então cabe a mim, me expor menos, falar menos de certos assuntos para ela e não me privar do convívio com ela. Digo isso, porque estou na dúvida se vou visitar o meu avô hoje, já que não estou disposto a ouvir cobranças que, podem, sim, prejudicar o meu estado de espírito.

O fato é que acordei bem, com vontade de viver. Agradecendo a Deus por tudo! Fiz uma alimentação saudável até agora. Conversei numa boa com a minha família. Estou feliz!

sábado, 28 de novembro de 2009

Deixa, deixa, deixa eu dizer o que penso dessa vida...

Hoje foi um dia muito bom. Sabe quando tudo parece dar certo? Acordei com meu pai e minha irmã me convidando para almoçar com eles. Coisa rara. Detalhe: minha irmã havia chegado de viagem e bateu na porta do meu quarto para me dar um beijo. Coisa mais rara ainda.

Moro eu, meu pai e minha irmã. Tenho dois irmãos que não moram comigo. Minha mãe morreu há 10 anos. Mas parece que foi ontem, ainda não consegui me acostumar. Eu não fico chorando pela ausência da minha mãe. Acredito que isso faça mal a ela e, por isso, procuro encara a morte dela com naturalidade. Uma naturalidade espírita. Afinal de contas, daqui a pouquíssimo tempo, quando eu desencarnar, estarei novamente ao lado dela. Não quero atrasar  a evolução espiritual de minha mãe e compreendo que a morte não existe. É uma passagem. Então para que sofrer? Já perdi um grande amigo, anos depois de perder a minha mãe. Engraçado, parece que senti mais a dor da perda desse amigo do que a dor da perda da minha mãe. Uma vez, a mãe desse meu amigo me disse a mesma coisa. Ela me disse que, para ela, era como se ela sentisse mais a perda da minha mãe do que a do filho dela. Então deve ser uma espécie de defesa do nosso organismo, sei lá. Eu sei dizer que, após a morta da minha mãe, eu comecei a beber muito. Talvez para esquecer, vai saber.

Eu ficava na internet. Navegava no MIrc. Eu comecei a criar uma personagem. Essa personagem foi se tornando real. Era um ex-dependente químico. Ele tinha um filho. Eu fui acreditando tanto nessa personagem. O fato é que comecei a embarcar nessa "loucura". Levei a personagem para a cama e quase foi fatal. Eu comecei a beber muito. Uma garrafa de vodca por dia. Eu ficava doidão o dia todo. Acordava e, antes de ir pra faculdade, já estava alcoolizado. A percepção do mundo, tudo foi ficando diferente. Eu pensava no álcool. Depois pensava no que eu iria fazer. Se não desse para eu beber, simplesmente eu não ia. Fui escondendo da minha família isso tudo, não sei como. Se acabasse a bebida no meio da madrugada, lá ia eu caçar bebida, fosse onde fosse. Fiz coisas das quais não lembro, inclusive na internet. Cansei de ouvir das pessoas, nossa, briguei com você! E eu não lembrava de nada! Eu lembro de outras coisas bem tristes. Lembro do dia em que um amigo meu me deixou bebendo sozinho em um bar. Ele disse, tchau! Chega! E foi embora. Eu fiquei com ódio, na hora, mas eu queria era beber mais. Eu lembro do dia em que meu pai me viu vomitar na cozinha e teve que me dar banho. Eu me lembro do dia em que eu acordei vomitando e meu irmão virando a minha cabeça, para que o vômito não fosse para o meu nariz. E até hoje eu não sei como cheguei em casa. Eu me lembro do dia em que eu estava muito bêbado e queria me jogar pela janela. Eu queria morrer. Eu queria me matar. E meu pai e meus irmãos viram tudo. E nesse dia, eu botei os meus bichos todos para fora. Eu falei de coisas do passado. De quando eu sofria de bullying. Eu me lembro que foi como se eu estivesse vomitando toda a dor que senti e guardei para mim durante anos.

Porque a minha infância não foi normal, a minha adolescência não foi normal. Eu sofria preconceito e agressões verbais e físicas, com o consentimento de alguns professores e de parte da direção da escola. Em casa, eu precisava descontar em alguém. Era nos meus irmãos. Aí minha mãe ficava brava, brigava comigo. E quando o meu pai estava em casa era só briga. Ele pegava no meu pé. Ele não aceitava o meu jeito. Até hoje eu não sei se ele aceita. Então foram anos vivendo um sofrimento, uma tortura psicológica e sem falar nada para ninguém. Eu acreditava, até uma certa idade eu acreditei nisso, que no futuro tudo iria ser diferente. Eu iria ser reconhecido. Eu iria mudar. Brilhar. Eu seria um ator conhecido. Um cantor, sei lá. Mas o tempo foi passando, passando... E eu fui envelhecendo. Envelhecendo sem conseguir chegar a lugar nenhum. Eu tentei ser ator. Eu tentei ser cantor. Eu tentei ser doutor, tentei algumas faculdades. Mas eu ia parando. Eu desistia. Eu não conseguia concluir nada.

Por causa disso tudo eu tenho medo de parar o tratamento que estou fazendo agora, como já contei em posts anteriores. Porque pode ser que seja demorado mesmo e eu esteja com pressa. Porque pode ser que eu esteja, mesmo sem perceber, arrumando desculpa pra abandonar o tratamento.

Aí ontem estava lendo um livro sobre depressão e o escritor (um psiquiatra e psicanalista) falava da importância fundamental da psicanálise e da psiquiatria no tratamento da depressão. Aí, pronto, fiquei mais calmo. Mais uma vez precisei de algo externo para me dizer, olha, você tá no caminho certo. Não encontrei resposta com meu pai e nem com meus irmãos. Ainda estou na dúvida sobre a eficácia do tratamento que estou fazendo, mas ler aquele livro me fez bem. O livro chama-se "Depressão, Fé e Transtornos Mentais - O que você deve e precisa saber", do Paulo Miguel Velasco (ed. Livre Expressão).

Ontem eu também fiz preces com mais fervor e aconteceu de eu achar uma prece que me fez um bem danado, como contei em um post anterior. Então, por isso tudo, acordei bem. Aí, para completar, o meu pai me disse que foi a uma cartomante e que ela disse a ele que eu tenho uma ligação espiritual muito forte com a minha mãe ainda. E que é isso que está me atrapalhando. Que o ano que vem é um ano em que eu irei brilhar. Que o que estou passando é, na verdade, espiritual. Olha, claro que não vou abandonar tratamento nenhum. Mas estou mais esperançoso. Vai que eu vou nela e consigo uma ajuda espiritual. Sei lá. Espero que dê tudo certo. Por isso tudo que eu contei, estou feliz. Posso sonhar um pouco? Acreditar? Acho que sim, né? Eu não me permito sonhar, imaginar um futuro melhor. Mas nessa madrugada eu vou tentar. Espero conseguir. Confiando em Deus, sempre!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Depressão nos idosos triplica nos lares de 3ª idade


Notícia do diário português Destak


«Dentro dos próximos dez a quinze anos, pelo menos 20% da população ibérica será composta por indivíduos com mais de 65 anos, dos quais cerca de 10% sofrerão de depressão e 8% de outras patologias como as demências», prevê Manuel Martín Carrasco, director da clínica Padre Menni.
O tema foi debatido numa sessão sobre ‘Prevenção da Depressão na 3ª Idade’, que decorreu esta manhã no âmbito do V Congresso Nacional da Sociedade de Psiquiatria e Saúde Mental, no Sheraton Porto Hotel e Spa.
A população feminina será, à partida, o género mais atingido, uma vez que tem ao longo da vida maior tendência a sofrer de depressão. Relativamente ao aparecimento de novos casos, após os 65 anos, ambos os sexos apresentam o mesmo nível de incidência. Nesta fase as mulheres têm maior capacidade de resposta face ao diagnóstico uma vez que tem melhores redes sociais, são mais activas nas lides domésticas e mantêm-se produtivas, nomeadamente, no apoio à educação dos netos.
Para Manuel Martín Carrasco, «os familiares devem estar atentos aos sinais transmitidos, nomeadamente, nas mudanças de comportamento: desinteresse nas actividades anteriormente praticadas, má qualidade do sono, diminuição de apetite, perca de peso e isolamento».
Poema do Idoso

A importância da fé

Hoje sinto-me mais disposto. Incrível como a chegada de minha irmã alterou o meu humor. Na verdade, ela chegou hoje. Ontem, também, é bem verdade, li um trecho de um livro que me falou coisas bonitas. É um livro de preces espírita, mas que serve para qualquer religião. Para qualquer pessoa que acredite que exista algo além, uma força maior que nos impulsiona. Deus. O livro chama-se "Lucidez - a luz que acende na alma", do Francisco Espírito Santo, ditado por Hammed (ed. Boa Nova). O capítulo que li chama-se "Rogativa da caridade em favor dos discriminados". Fala de todos os discriminados, inclusive dos que tem orientação sexual diferente. E foi a primeira vez que eu li, embora sempre acreditasse nisso, um livro cristão que mostrasse um Deus livre dos preconceitos. Um Deus que não julga, não condena baseado nos valores humanos. Quando acabei de ler, eu que sofri de bullying durante anos, eu que sempre, por mais que acreditasse em um Deus assim, de verdade com compaixão, sempre busquei uma resposta exterior. Era que como se eu necessitasse que outra pessoa concordasse comigo. Pode ser baixa autoestima. Pode ser qualquer coisa, mas o fato é que ler esse livro me fez muito bem. E veio numa hora em que eu precisava fortalecer a minha fé. Porque é difícil manter a fé em momentos de apatia, quando tudo parece igual, nada parece melhorar e a melhora é apenas a certeza de alguns dias, algumas horas bem.

Por sempre ter momentos de recaídas, mudanças de humor, aprendi a fazer o oposto do que muita gente diz: a viver sem pensar no amanhã. Não faço planos para o futuro. Se estiver bem no presente, beleza. Se não estiver tão bem, tenho a certeza de que Deus me protege e tudo o que acontece enquanto não estou tão bem serve para que eu aprenda, evolua espiritualmente. Claro, muitas vezes é difícil manter a fé, mas é necessário. É fundamental.

Então fica aqui a minha dica para você que é uma pessoa depressiva ou até mesmo para você que sofre constantemente com mudança de humor, que sente tristeza muitas vezes. Acredite em algo maior, mais forte que você e que te ajuda a seguir adiante. Acredite que a vida é maior do que parece, não termina aqui. Nada termina e nem começa aqui. Acredita nessa energia chamada Deus! Acredite, porque a fé é fundamental! Eu fico besta de ver pessoas que dizem não ter fé. Sei lá, não sei como elas aguentam viver...

Falei sobre a minha fé, mas veja um pouco dessa palestra do Mons. Jonas Abib, que fala sobre a adoração, mesmo na depressão:

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Fazer o bem

Quando criança, sempre que me sentia triste, um pouco deslocado e não sabia dizer o que estava sentindo, ouvia da minha mãe o seguinte ditado: mente desocupada, oficina do diabo. Era como se ela quisesse justificar o que se passava comigo. Talvez por se sentir impotente. Talvez porque eu não soubesse dizer o que sentia. O fato é que cresci com isso na cabeça. Eu passei uma infância difícil, mas nunca me senti impotente, pois tinha o apoio e conforto da minha mãe, de alguma forma. Ela me protegia, me completava. A perda dela foi um dos episódios mais traumáticos da minha vida. Um dia eu conto com calma. Mas, apesar de toda essa proteção, minha mãe nunca soube enxergar que eu era um menino diferente. Então sempre existiu um vazio. Eu pensava assim, quando crescer vou me tornar famoso e mostrar pra esses caras que me zoam na escola que eu sou mais eu! Que eu venci! Eu cheguei lá! O fato é que virei adulto e não cheguei a lugar nenhum. Mas estou tentando. E esse blog é um pouco isso, essa tentativa. Tentativa de chegar a um lugar. Posso bater a cara na parede, mas dou meia-volta e sigo em outra direção.

Outra coisa que ouvia muito da minha mãe, quando eu tinha alguma queixa era: olhe para trás e veja quanta gente em pior situação que a sua. Caramba! Então eu não podia expressar meus sentimentos? Tinha que parecer feliz, agradecido e contente por estar em uma situação aparentemente melhor que a de outra pessoa? Era mais ou menos isso que interpretava, embora hoje isso me pareça muito cruel. Mais cruel ainda é seria olhar para "trás" (não seria para os lados) e agradecer por não ser miserável como fulano, não ter as limitações de sicrano. Eu não queria saber de fulano, de sicrano, de beltrano. Eu queria que alguém me entendesse. Eu queria saber um pouco de mim. Claro, eu me consternava com a situação difícil do outro. Rezava pelos miseráveis, por exemplo. Mas agradecia por ter saúde e não por não ser doente. Dá pra entender a diferença. Acredito que minha mãe não quisesse, exatamente, que eu agradecesse por não estar em situação tão ruim quanto a de outras pessoas, mas era o que me parecia.



Sabe, acho mesmo que a gente tem que, pelo menos uma vez ao dia, ser "egoísta" e pensar na gente. Olhar com franqueza pro nosso interior. Aceitar as nossas contradições sem os prejulgamentos tão comuns, que a gente aceitou desde pequeno. Aceitar a nossa raiva, a nossa inveja, depois tentar entender o por quê e, ai sim, modificar esse sentimento. Mas tentar reprimir nunca dá certo.

Mas uma coisa que aprendi com a minha mãe e que sei que é bem importante para que a gente se sinta bem é justamente fazer o bem a outro. Mais do que olhar para trás, para os lados, para frente, para cima, para baixo ou para todas as direções, minha mãe me ensinou a amar e respeitar o próximo, a praticar a tal caridade cristã, mas que para mim não deve estar associada exclusivamente aos cristãos, melhor dizer caridade humana. E acho que quando olhamos o outro, independente dele estar em situação melhor ou pior, como um irmão nosso, podemos nos colocar na situação dele, não para dizer como ele deve agir, mas para tentar entender a forma dele agir. Se for o caso de recriminar, esperar o momento certo para isso. Mais ou menos isso é o que eu acho que deveria acontecer. Mas as pessoas têm o péssimo hábito de julgarem os outros sob os seus pontos de vista. Geralmente, essa atitude surge embasada em crendice, ignorância, prejulgamento mesmo. E isso acaba gerando discriminação.

Escrevi isso tudo, para dizer que o preconceito dói. Já fui vítima de preconceito porque eu era diferente na escola, meio nerd. Já fui vítima do preconceito porque eu sou gay. Já fui vítima do preconceito, aliás, ainda sou, porque eu tenho depressão. Mas procuro driblar o preconceito. Afinal, só eu sei a delícia e a dor de ser o que eu sou, certo? Mas como sou contra o preconceito, gravei um vídeo pra campanha contra o preconceito que as pessoas têm com os soropositivos. Achei bacana e estou divulgando aqui. Conheça o site! Você pode gravar depoimento, escrever, mandar foto! E, claro, se informas a respeito do HIV/AIDS! Clique aqui e acesse o site!


quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Para Elenice

Acabei não indo ao psicanalista hoje. Não quis. Não quis falar dos meus problemas. Falar as mesmas coisas. Enfim, não estava com vontade. Ando desacreditado desse tratamento com ele. Então fiquei dormindo... Dormindo... Amanhã a minha irmã chega aqui. Ela está viajando. Então seremos eu, meu pai e ela. Nós três moramos juntos. Estou feliz com a volta dela. Mas as cobranças surgem. E se eu dormir demais, o que ela vai achar? Como se ela nunca tivesse visto a cena antes. Agora preciso ir, mas devo voltar mais tarde. Antes, quero deixar um recado para Elenice!

Que bom, o primeiro comentário no meu blog. Bacana. Elenice, fiquei feliz mesmo, sabendo que você está aqui, se interessa por mim, pelo assunto. Espero que a gente  possa troca ideia e carinho sempre. Um beijo enorme para a primeira querida leitora!

Tudo errado

Caramba, ainda não dormi. O sol raiou e eu aqui. Não saio do meu ap desde a semana passada. A entrevista que eu havia marcado com o terapeuta cognitivo-comportamental não rolou. Acabei não acordando. Mas também é fogo. Como vou a uma entrevista com um cara que não conheço? Nunca vi o rosto. É difícil arriscar. E na segunda-feira eu não fui ao meu psicanalista porque ando desanimado com o tratamento. Tenho uma amiga que estuda psicologia e pode ser que ela saiba me indicar um terapeuta cognitivo-comportamental bom.

Agora eu vou dormir. Sonhar! Caramba, quando não tenho pesadelos eu tenho sonhos maravilhosos! Mas eu nãos sei o que é pior: acordar com aquela sensação de pânico que um pesadelo provoca, ou acordar com aquela sensação de que depois de um sonho maravilhoso, o que me me espera é uma realidade vazia. Alguém me escuta? Deus? Cadê o senhor? Como manter a chama da fé acesa se ninguém me ouve, ninguém quer saber. Ninguém nem lê esse blog. Fui, antes que eu chore...

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Des perguntas e respostas sobre depressão

A doença já acomete cerca de 121 milhões de pessoas no mundo inteiro, e é a quarta causa global de incapacidade. Clique aqui e saiba mais!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

As aparências enganam

Li uma notícia que achei interessante de ser comentada aqui: "Mulher com depressão perde benefício por causa de foto no Facebook". Caramba, é impressionante mas as aparências enganam. E acho mesmo que a mulher deveria ser submetida a exames antes de perder os benefícios. Digo isso porque muitas vezes as pessoas me dizem que adoram o meu humor, a minha alegria e mal sabem elas o esforço que eu fiz para levantar.


Deprimido tem que parecer que está triste o tempo todo? Claro que não!

Tipo festa de família, sabe? Caramba, vou encontrar meus primos, minha família! Mas eles vão me perguntar sobre profissão, ocupação, faculdade... Pronto, lá vem o desânimo. É como se eu tivesse que, dar justificativa para alguém. Caramba, quero ver se um dia eu chego pro povo e falo não estou fazendo nada. Sim, porque até pra ir ao médico, na hora de preencher a ficha, me perguntam a minha profissão. Isso vai alterar a vida de alguém? Profissão: VAGABUNDO! Ah! viu... E quando é medico antigo, então? Isso tudo, esses maldito sistema que quer que sejamos todos iguais, me faz me sentir um lixo! À margem da sociedade mesmo. Às vezes eu fico pensando nesses caras que entram no cinema e saem matando geral nos EUA. Será que queriam chamar atenção? Queriam mostrar que existem?

Tão bom quando eu tinha 17, 16 anos e não precisava justificar nada a ninguém. Quando a gente é adolescente, se a gente fica no quarto é crise existencial de "aborrecente". Nossa, era ótimo! Eu sentia desconforto sem ligar muito pra ele. Ou melhor, eu sentia sabendo que podia sentir. Depois de adulto a sensação que tenho é que sou um adulto com mentalidade de adolescente. Tipo, parece que escrevo feito adolescente aqui. Enfim, vem um monte de recriminação interna e esses sentimentos "negativos" ficam presos. Eu não consigo canaliza-los de maneira produtiva. E dá uma raiva danada! Aí eu lembro dos caras que matam todo mundo no cinema. Sim, porque eu já pensei em matar, eu já pensei em me matar também. Isso não quer dizer que eu vá fazer isso, mas eu já pensei e eu tenho o direito de escrever isso aqui sem me justificar muito, né? Não se assuste, eu sou do bem. Vai ver você já pensou nessas coisas também e achava que só você pensava. Vai saber...

Lanterna vermelha

Hoje acordei sem vontade de ir ao psicanalista. Até porque não contei a ele que tenho entrevista marcada com o terapeuta cognitivo-comportamental essa semana. Detalhe: 10h da manha. Tenho trocado o dia pela noite, vai ser fogo acordar cedo e me despencar para a entrevista. Nesses momentos difíceis (eu passei esses dias do feriado todos em casa) eu penso sempre assim: acendeu a lanterna vermelha. Eu não gosto dessa luz vermelha... Tenho que apagar essa luz.

Semana decisiva

Essa semana é muito importante para o meu tratamento. Faço tratamento psiquiátrico e psicanálise com a mesma pessoa. É que eu disse pra ele que preferia assim, já que o psicanalista que ele tinha me indicado eu não gostei. O cara é gente boa, mas não rolou aquela energia necessária para esse tipo de tratamento. Já havia feito outros tipos de tratamento: psicólogos, psicanalistas etc. A última era uma psicóloga que também usa floral. Mas eu abandonei. Abandonei porque o meu psicanalista e psiquiatra (na época ele era só psiquiatra) disse que não iria conversar com ela, porque ele acredita na psicanálise.

O fato é que foi nessa psicóloga que eu descobri uma força interna. Redescobri. Redescobri a necessidade de ir ao encontro dos sentimentos que estão no fundo, no fundo do meu ser, da minha alma, sei lá. Sentimentos camuflados pelo tempo. Pela sensação de incapacidade. Sensação essa que sempre me acompanhou. Mas isso é assunto pra vários posts. A vida da gente é complexa, mesmo que muitas vezes a gente não dê tanta importância a ela. E eu estou com 30 anos, ou seja, tenho uma certa bagagem. Sou adulto já, né?

Então voltando ao foco principal, ao meu tratamento, foi assim que parei nesse psiquiatra e psicanalista. Eu tomo 60 mg de cloridrato de duloxetina por dia. O nome é complicado, mas é o que tem me impulsionado. Quem descobriu esse remédio é um anjo. Mas tratamento psiquiátrico nem sempre foi sinônimo de sucesso em minha vida. Tive sérios problemas em função de um tratamento anterior. Mas um dia eu conto com mais calma.

Estou fazendo esse tratamento tem mais ou menos um ano e meio. Por aí. Depois eu vejo com calma essa questão do tempo. O tempo passa diferente pra mim. Acho que isso acontece com muita gente que tem a mente confusa. E a minha, caramba, você pode acreditar, é confusa à beça. Mas voltando ao tratamento. Só o tratamento com psicanalista e psiquiatra não está servindo. Então resolvi procurar um terapeuta cognitivo-comportamental. Entrei no site da associação aqui do Rio de Janeiro, pesquisei e, assim meio na sorte, até porque o site não tem muita informação sobre os caras, escolhi um. Tenho entrevista essa semana. Preciso decidir sobre algo tão importante quanto o meu futuro tratamento. Continuo nesse ou vou pra outro. Isso porque certamente, a terapia cognitiva-comportamental implicará em mudar de psiquiatra, de psicanalista, enfim, de começar tudo outra vez. E por mais que eu pense que existe uma continuidade nisso tudo, afinal sou eu tentando, não deixa de ser um recomeço. E recomeço é sempre difícil, doloroso, sofrido. Mas preciso tentar, não posso e não quero desistir. Poder eu posso, mas não quero, quero continuar.

E você, sabe algo sobre terapia cognitiva-comportamental? Quer compartilhar? Conta pra mim!

domingo, 22 de novembro de 2009

Oi

Acabo de acordar. Incrível como esse lance de escrever um blog sobre minha doença mexeu comigo. De madrugada, fiquei ansioso pra saber se alguém tinha lido o meu blog. Então eu não conseguia dormir. Fui dormir lá para às 05h30, por aí.

Acordo com uma sensação de que meu feriado (isso pouco importa, até porque todos os dias são feriados para mim) foi uma porcaria. Eu não chorei, não fiquei me lamentando. Estou tentando ficar conectado com Deus, com os bons espíritos, estou tentando manter uma positividade. Mas o fato é que eu vi filmes, novela, naveguei um pouco na net e dormi.

TV, internet, livro, rádio distraem, mas não aquecem, não possuem mãos, não conversam. E eu acho mesmo que estou precisando de companhia. Mas uma companhia que me entenda, que pense parecido comigo. É pedir muito? Estou sendo egoísta. Vou tomar banho e sair do quarto. Até!

Vamos aos fatos

Bom, só pra constar: o título do blog e o link foram feitos, assim, meio nas coxas, porque o link que eu queria não podia, alguém já tinha tido a mesma ideia antes. Fazer o que, né? A vida é assim. E essa competição toda me assusta.

Assusta-me, também, fazer esse blog. Demorei muito, mas muito mesmo para ter coragem para isso. Para começar a escrever. Digitar, digitar, digitar. Demorei porque dá medo. Colocar os sentimentos no papel dá medo. E também é um pouco frustrante. A gente pensa muito antes de escrever e acaba saindo tudo super artificial. Uma bobagem. Parece coisa de adolescente, rebelde sem causa.

Olha, mas como estou usando um nome falso, isso mesmo, inventei esse nome, ok? Acho que vai ficar mais fácil. Só o nome é falso. O resto tudo será verdadeiro.

É verdade, sou depressivo. Sim, diagnosticado pelo meu psiquiatra. Mas antes mesmo de ser diagnosticado eu já sabia disso. Porque a minha depressão não veio de um fato, não é recente. Ela sempre me acompanhou. Algumas vezes com menos intensidade. Outras vezes com uma força devastadora. O fato é que deixa marcas. E depressivo só entende depressivo. Ou seja, preciso de pessoas que tenham depressão lendo esse blog. Preciso de respostas. Preciso compartilhar a minha dor, minhas angústias e, claro, minhas vitórias. Mas se você veio aqui, achou isso tudo ridículo e quer comentar, ok! Fique a vontade. Só não me deixe aqui sozinho.

Então é isso. Ainda não coloquei nada de interessante, ou pelo menos nada forte por aqui. Primeiro porque estou começando. Segundo porque vou dormir, ou tentar já, já e procuro pensar em coisas positivas antes de dormir. Tenho muitos pesadelos. Rezo sempre antes de dormir. Nem sempre adianta. Mas resolvi parar de pensar em coisas tristes. Posso ver um filme de terror, por exemplo, de madrugada, mas logo procuro esquecer e pensar em coisas positivas antes de dormir. Filme pornô então, evito mesmo. Eu adoro filmes pornôs, até porque eu tenho uma vida praticamente assexuada. Mas, sei lá, parece que tocar uma antes de dormir, vendo esse tipo de filme me deixa cansado no dia seguinte. Acho que encontro com espíritos negativos. Forças do mal, enfim.

Com o tempo, a medida que os dias forem passando e eu tiver saco, vou postar com calma sobre tudo isso que você leu, ok? Vou ficando por aqui... Ah! claro, deixa eu terminar de me apresentar: tenho 30 anos e estou impossibilitado de trabalhar devido à minha doença, essa tal de depressão. Depois vou postar sobre o tratamento que faço etc. Tchau!