sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Mudança


O blog mudou de endereço. Você pode comentar lá: http://vivendocomdepressao.zip.net/

Ela pode

Eu sei que o vídeo foi postado pra meter o pau na atriz. Não quero entrar no mérito, até porque isso não interessa ao blog. Mas o fato é que eu morri de rir com esse vídeo. No início, mostra uma suposta brincadeira feita pela atriz com uma da apresentadoras e repórteres de um programa da mesma emissora em que ela trabalha. Digo brincadeira, porque ela mesma teve a oportunidade de se retratar, falando isso, ao ser entrevistada mais uma vez pela mesma repórter. Mas eu postei o vídeo por causa do final. No final do vídeo, a talentosa atriz Susana Vieira diz que 44% dos internautas brasileiros dizem que ela "se acha". E ela diz isso de maneira dedochada. Termina com um "amores, eu posso". E pode mesmo.




A veterana atriz tem 67 anos e está muito bem, obrigada com o seu corpo. Além de ser uma das maiores estrelas da TV brasileira, Susana não se intimida em debochar dela própria. Na minissérie "Cinquentinha" (Rede Globo) ela é Lara Romero, uma atriz decadente, que esconde a idade e vive de aplicar botox. Susana não se contrange em aparecer de roupa íntima e muito menos em interpretar uma atriz arrogante, como muita gente diz que ela é na vida real.


Eu tive a oportunidade de ouvir coisas boas a respeito da atriz. Uma vez ela foi muito gentil com uma pessoa da minha família, que estava passando por uma situação difícil. Isso, sem nunca tê-la visto. Mas o fato é que eu admiro essa autoestima toda. Melhor excesso de autoestima do que baixa autoestima.


Sabe, eu queria ter mais confiança em mim mesmo. Nem sei quanto tempo faz que dei um mergulho na praia. Não gosto de tirar a roupa na frente dos outros. Ficar sem camisa é um horror. Sempre fico contrangido em ir ao médico, às vezes até evito de ir por causa disso. A depressão abre o meu apetite e eu engordo. Estou um pouco acima do peso. Mas sei lá, a comida acaba sendo um dos meus poucos prazeres. Então não dá pra ser perfeito em tudo. Mas sabe, bem que eu queria desencanar e ter o meu dia de Susana Vieira. E olha que eu tenho menos da metade da idade dela...

A Música na Cura da Depressão

Para sair de uma situação depressiva é imprescindível ter atitudes que busquem caminhos, e após encontrá-los, seguir em frente. Dentre os tratamentos para a depressão a musicoterapia é forte aliada. No silêncio da alma, a canção é um convite a reencontrar o sentido de viver. As ondas sonoras invadem o cérebro e desbloqueiam os neurônios, de tal modo, os sentimentos se modificam, ressoando em todo o corpo. No entanto, a música não se restringe apenas à mente física, excedendo a dimensão corporal atingi planos superiores e proporciona mudanças significativas no ser, tendo o poder de libertar, curar, emocionar, descontrair, enfim, transformar!
O filósofo alemão Arthur Schopenhauer vê na arte a possibilidade de transcendência, sendo que a música ocupa o mais alto patamar, segundo ele: “a música, por ser independente de toda imagem externa, é capaz de nos apresentar a pura Vontade em seus movimentos próprios; a música é, pois, a própria vontade encarnada”. Não há gênero definido, basta ouvir o que se gosta e se envolver com a melodia para que os efeitos terapêuticos sejam notados. Dos ritmos mais eletrizantes aos mais suaves, o que importa é deixar o espírito dançar e porque não, ao mesmo tempo, o corpo...
Para os casos de estresse, tensão e ansiedade o ideal é o estilo New Age, também conhecido como música do terceiro milênio. Composições acrescidas de cantos de pássaros e murmúrios da natureza induzem a mente a um estado de relaxamento. E a contemplação sugere um passeio pelo cosmo. Tendo as estrelas e o infinito como pano de fundo, as emoções levitam deixando o tempo se desenrolar lentamente, sem pressa... Os encantos e desencantos, a amargura e o deleite se dissolvem nos compassos e descompassos da música que nada mais é que, a vida se manifestando em forma de sons...

J. Antonio Séspedes - autor do livro: Depressão, um beco com saída-www.outonos.com.br

Fonte: Portal Jornal do Povo Três Lagoas

Dieta mediterrânea pode reduzir risco de depressão

Mais uma notícia relacionando depressão a alimentos:

A dieta mediterrânea é conhecida como uma das mais saudáveis. Recentemente pesquisa apontou que os alimentos reduzem a probabilidade de que pacientes recém-diagnosticados com diabetes tipo 2 precisem de tratamento medicamentoso. E agora a lista de benefícios acaba de aumentar. De acordo com uma pesquisa publicada neste mês no Archives of General Psychiatry, periódico da Associação Médica Americana, esse tipo de culinária diminui o risco de depressão. Saiba mais clicando aqui.

Dieta do bom humor emagrece e ainda ajuda a combater a depressão

Eu não sou de acreditar muito em livros que contém a formula mágica contra doenças, tipo cure-se do cancer commendo tomate ou emagreça se alimentando de luz. Mas eu li há um tempo atrás na revista “Saúde! (Abril) que determinados alimentos ajudam no combate à depressão. Lembro-me de dois: chocolate amargo e duas banas por dia. Então se você se interessa por alimentação saudável e que, ainda por cima, ajuda no combate à depressão, talvez essa notícia seja interessante:

A nutricionista Susan Kleiner criou um regime alimentar que segundo seu livro “Emagreça com bom Humor” (Larousse), faz você perder peso e ajuda na luta contra a depressão. Mais detalhes, inclusive com os alimentos certos estão aqui!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Pirando o cabeção

Na segunda-feira fui a uma cartomante. Me disseram para eu ir. Fiquei um pouco apreensivo, mas acabei gostando. Ela não me disse nada além do que eu já sei. Mas ela me disse coisas que, só me conhecendo muito, conhecendo a minha cabeça, o meu coração e a minha alma é que é possível saber. Então eu levei fé. E ela me disse que essa depressão está associada a duas coisas: um desequilíbrio energético e uma ligação muito forte que eu tenho com a minha mãe, que já morreu. E me disse coisas bacanas como: ano que vem é será meu ano e em breve surgirá um amor que vai "pirar meu cabeção".

Então eu saí da casa dessa cartomante com o cabeção pirado, nas nuvens... Um amor! Um novo amor. Porque eu nunca namorei. Sério, estou com 30 anos e nunca namorei. Tenho um vida sexual praticamente inativa. Preciso mesmo me abrir pro mundo, deixar a energia sexual fluir. Essa minha assexualidade, ou quase assexualidade pode se explicar por vários fatores. Mas não tem uma explicação exata.

Desde muito novo, sempre achei meu pênis pequeno. Sei que isso é motivo de preocupação de muitos homens. Mas o problema é que essa preocupação tornou-se um medo patológico. E eu cresci assim, achando que meu pênis é pequeno. Me sentindo menos potente com relação aos outro meninos. Menos viril. Menos forte. Menos homem. Tudo por causa do meu pênis, tadinho. Aí, tá vendo, já comeceu a trata-lo no diminutivo. Assim fica difícil, né? Bom, mas voltando ao assunto principal, essa precupação com o tamanho do meu pênis tornou-se um pânico de transar. Eu até posso transar. Posso fazer sexo oral, anal, mas deixar o parceiro ver meu pênis não! Parceiro sim, sou gay pra quem pegou o "blog" andando e quer sentar na janelinha. E isso tornou-se um agravante. Eu pensei várias vezes, nossa, se eu fosse hétero seria mais fácil. Porque mulher não se preocupa tanto com o tamanho do dito cujo quanto os gays. Sim, são clichês, mas eu passei a acreditar nisso como uma regra para todos! Talvez para tentar justificar esse pânico para mim mesmo. Aliás, se alguém souber o nome de pânico de transar, me diga.

E fui crescendo assim, com medo. E esse medo me atrapalhou muito. Atrapalhou o meu desenvolvimento. Sim, porque eu precisava frequentar lugares gays, conhecer gays e começar a minha vida sexual de maneira saudável. Só que eu associava boate a homens sedentos por sexo e sexo ao meu "micro" pênis. É claro, a boate não poderia ser um lugar interessante. Então minha vida sexual foi sendo deixada de lado. Até porque eu não encontrava solução para essa questão do pênis.

Eu procurei soluções: fui a mais de um urologista. Passei pela situação constrangedora de ter o pênis medido com uma régua e, então o urologista rindo, dizer que meu pênis tem o tamanho normal, que não se faz cirurgia para aumento de pênis. Que só no sul tem esse tipo de cirurgia, mas que ele não aconselha. Enfim, acho que o problema está na minha cabeça.

E como a gente resolve esse medo? Enfrentando, certo? Certo! Nossa, então é muito fácil! Basta eu encontrar um cara que esteja com vontade de transar comigo e pronto. Finjo que tô sem medo e encaro. Na teoria as coisas são tão fáceis... Mas o fato é que eu não troco de roupa na frente de ninguém. Eu não tomo banho na frente de ninguém. Ninguém me vê nu. Então fica difícil ir muito além da masturbação. E sempre que tenho relação sexual (nunca completa, com o outro vendo meu pênis) é com pessoas que eu sei que não acrescentam nada a mim. Talvez como uma punição por esse pânico. Talvez por carência.

Enfrentar causa medo, é difícil, mas fugir é sempre muito pior. Resolvi abordar essa questão da falta de sexo aqui, porque ela está ligada a minha depressão e, também, porque eu tenho certeza que não estou sozinho nessa história. Muita gente é mal resolvida na área sexual. Acho um bom passo compartilhar isso com vocês. Sim, já estou falando com o meu psicanalista sobre isso. Então espero que até o surgimento desse amor que vai "pirar meu cabeção", eu esteja mais desencanado com relação a essa questão.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Bullying

Recentemente, li no jornal O Globo, artigo de um psiquiatra a respeito do bullying. Não colei aqui, pois o jornal não permite. Existem diversos artigos a respeito desse tipo de violência na internet. Eu fui vítima durante anos. Deixa marcas, sequelas talvez incuráveis. Estou me preparando para escrever sobre isso, pois as lembranças doem. Mas será preciso escrever sobre isso aqui, senão o blog ficará incompleto. E a minha proposta é dividir com vocês um pouco da minha experiência. Mas hoje ainda não me sinto forte o suficiente para escrever sobre a minha longa e torturante experiência... Deixo um vídeo forte a respeito do tema. É sério. É uma realidade. Acontece até hoje, todos os dias. É para a gente pensar.


Notícias fresquinhas

Gosto de pesquisar notícias sobre a minha doença. Afinal de contas, se informar é uma maneira de combater o preconceito. Vou postar algumas notícias que julgo interessantes:

*10% dos idosos portugueses sofrem de depressão. Clique aqui e leia mais. Já falei sobre esse tema aqui no blog. Caramba, tanto idoso precisando de carinho... Amanhã estarei com meus avós. Vou enche-los de beijos e mimos!

* Depressão é mais comum em homens com síndrome metabólica. Clique aqui e leia mais. Nem sabia que existia essa síndrome, confesso.

Mais um dia

Novo dia. Novos planos? Não. Não tenho novos planos, pois não vejo horizontes novos. É um novo dia e as perspectivas são exatamente as mesmas. Então fica difícil... Amanhã terei um almoço para ir. Mesmas pessoas: família. Já sei o roteiro de cor.

Hoje, sexta-feira, queria tanto fazer algo... Mas o quê? Com quem? É, fica difícil. Não tenho amigos, este é um fato. E este fato pesa. Porque ir ao cinema sozinho pela terceira vez na semana é triste demais. Não. Não gosto de sentir pena de mim mesmo. Não quero me fazer de vítima. Não é do meu feito. Mas o fato é que, quando acaba a sessão vem a sensação de estar sozinho. Parece que falta algo. E ver aquelas outras pessoas sozinhas no cinema é tão triste. Mesmo assim, é melhor vê-las do que ver casais no cinema sexta-feira à noite. São muitos beijos e amassos. Melhor deixar o cinema para outro dia. Semana que vem. Ficar aqui no meu cantinho, talvez seja a solução. É verdade, já sei o roteiro daqui do meu ap. Mas sei lá, me sinto mais acolhido. Se não fosse meu pai aqui... É porque podem surgir cobranças dele. E estou farto de cobranças.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Queridas leitoras

Até agora só recebi postagem de leitoras. Às vezes eu fico meio sem jeito em lidar com o sexo oposto. Meu psicanalista está tendo dificuldade em encontrar acompanhantes terapêuticos do sexo masculino, para me ajudarem a fazer as atividades do dia a dia de tarde. É que a maioria é do sexo feminino. Quem sabe não começo vencendo esse obstáculo aqui? Obrigado a vocês leitoras! Muito obrigado pelos comentários! Deixo uma mensagem pra vocês!

Pensamento positivo

Ontem fui ao psicanalista outra vez. E foi muito bom. Estou com as energias renovadas. Acordei pensando em ir a um musical que quero muito assistir. Pensei em convidar o meu irmão, mas logo imaginei que ele pudesse não querer ir. É que ele já recusou esse tipo de pedido algumas vezes. Também pensei em ir ao cinema ou ao Jardim Botânico. Não sei se vou fazer essas coisas. Muitas vezes penso, penso e não faço. Mas o fato é que estou pensando positivamente! Isso já é um bom sinal!

Depressão em soropositivas e depressão pós-parto

Reportagem do Globo Online mostra pesquisa que revela que “entre as mulheres soropositivas, 33% afirmaram ter grau intenso ou muito intenso de tristeza ou depressão” (clique aqui para ler na íntegra). Isso é mais uma prova de que o preconceito é um dos pais da depressão. Um dos pais, porque depende do caso.


O blog Nave Mãe traz um post interessante chamado "A Terrível depressão pós-parto" (clique aqui para ler).

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O que a depressão pode nos dizer sobre o mundo em que vivemos?












O depressivo na contramão
ELIANE BRUM
 Reprodução
ELIANE BRUM
ebrum@edglobo.com.br
Repórter especial de ÉPOCA, integra a equipe da revista desde 2000. Ganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de Jornalismo. É autora de A Vida Que Ninguém Vê (Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua (Globo)
Em seu último livro, O Tempo e o Cão – a atualidade das depressões (Boitempo, 2009), a psicanalista Maria Rita Kehl nos provoca com uma hipótese sobre a qual vale a pena pensar: a depressão, que vem se tornando uma epidemia mundial desde os anos 70, pode ser a versão contemporânea do mal-estar na civilização. Ela teria algo a dizer sobre a forma como estamos vivendo e sobre os valores da nossa época. Para além da patologia, a depressão pode ser vista também como um sintoma social.


O que nossa época nos exige? Euforia, confiança, velocidade. Temos de ser pró-ativos. O que ela nos promete? Se soubermos traçar nossas metas e construir nossa estratégia, atingiremos o sucesso. Se produzirmos e consumirmos, alcançaremos a felicidade. Ser feliz deixou de ser uma possibilidade esporádica para se tornar uma obrigação permanente. Para nós, seres desta época, nada menos que o gozo pleno. Fora disso, só o fracasso. E o fracasso, este é sempre pessoal. Se não alcançamos o que nos prometeram no final do arco-íris é porque cometemos algum erro no caminho. E fracassar, como sabemos, passou a ser não um fato inerente à vida, mas uma vergonha. 


O depressivo, neste contexto, é a voz dissonante. É o cara na contramão atrapalhando o tráfego, como na letra de Chico Buarque. Como diz Maria Rita, é aquele “que desafina o coro dos contentes”. Ela afirma, logo no início do livro: “Analisar as depressões como uma das expressões do sintoma social contemporâneo significa supor que os depressivos constituam, em seu silêncio e em seu recolhimento, um grupo tão ruidoso quanto foram as histéricas no século XIX. A depressão é a expressão do mal-estar que faz água e ameaça afundar a nau dos bem-adaptados ao século da velocidade, da euforia prêt-à-porter, da saúde, do exibicionismo e, como já se tornou chavão, do consumo desenfreado”. 


Neste sentido, a mera existência do depressivo aponta, nas palavras da psicanalista, a má notícia que ninguém quer saber. Se basta ser pró-ativo, bem-sucedido e saudável, por que tantos e cada vez mais, como mostram as estatísticas, são classificados como depressivos? 


“A depressão”, diz Maria Rita, “é sintoma social porque desfaz, lenta e silenciosamente, a teia de sentidos e de crenças que sustenta e ordena a vida social desta primeira década do século XXI. Por isso mesmo, os depressivos, além de se sentirem na contramão do seu tempo, vêem sua solidão agravar-se em função do desprestígio social da sua tristeza”. 


Cada época cria seus proscritos. Na época da euforia e da velocidade, nada mais desafinado do que um depressivo. Se, em vez de hoje, o depressivo, então chamado de melancólico, vivesse no romantismo do final do século XVIII, “estaria tão adequado à cultura e aos valores de sua época quanto um perverso hospedado no castelo do marquês de Sade”.


Hoje, porém, os depressivos parecem ser não só o portador de uma má notícia, mas de uma doença contagiosa. Quem quer ter por perto alguém que sofre em um mundo cuja existência só se justifica pelo sucesso e pela felicidade plena? Num mundo em que todos têm de estar “de bem com a vida” para merecer companhia? 


O depressivo não apenas sofre, mas silencia num mundo em que as pessoas preenchem todos os espaços com sua voz. E não apenas silencia, mas em vez de preencher seu tempo com dezenas de tarefas, uma agenda cheia, se amontoa no sofá da sala e nada quer fazer. Não só é lento, como chega a ser imóvel. Sua mera existência nega todos os valores propagandeados dia após dia ao redor de nós – e também pelo nosso próprio discurso afirmativo e de auto-convencimento. 


Ao existir, o depressivo faz uma resistência política passiva ao establishment. Obviamente, ele não é um ativista nem tem consciência disso e preferiria não sofrer tanto. O que Maria Rita nos propõe é enxergar a depressão para além dos aspectos clínicos. Enxergar também como sintoma da sociedade em que vivemos. Como a ótima psicanalista que é, o que ela nos propõe é ouvir. Neste caso, ouvir o que a depressão tem a nos dizer quando escutada como sintoma social, como expressão de um mal-estar no mundo. 


Os medicamentos podem fazer enorme diferença nas depressões graves num primeiro momento, para arrancar da apatia e possibilitar uma elaboração dessa dor que permita lidar com a vida de uma forma menos paralisante. Inclusive para romper com o imobilismo e buscar uma escuta pela psicoterapia ou pela psicanálise. Os medicamentos antidepressivos têm sua hora, seu lugar e sua importância. Mas acreditar que a medicação resolve tudo é calar a dor de quem a vive. E, no âmbito social, é ignorar o que ela diz sobre o que há de torto em nosso mundo. 


Afirmar que a indústria farmacêutica resolve tudo é silenciar o impossível de ser silenciado, como prova a escalada das estatísticas da depressão. Na esfera social, significa dizer que é uma ótima vida correr desde que acorda até a hora de dormir, sem ter um minuto sequer para elaborar o que de bom e de ruim viveu naquele dia. Sem tempo para viver a experiência. Ou, como diz Maria Rita, vivendo no tempo do Outro. 


Acreditar que a epidemia mundial de depressão pode ser erradicada com pílulas é afirmar que no nosso mundo nada falta. E um pouco mais grave que isso: é acreditar não apenas que é possível atingir uma vida em que nada falte, como atingi-la é uma mera questão de adaptação, pró-atividade e saúde. 


No âmbito do indivíduo, tratar a depressão apenas com medicamentos é tornar ilegítima a sua dor. É dizer ao depressivo que o que ele sente não merece ser ouvido porque é produto apenas de uma disfunção bioquímica. É reforçar a crença de que o depressivo não tem nada a dizer sequer sobre ele mesmo. É cristalizar o estigma. Sem contar que tentar calar os sintomas da depressão à custa de remédios leva ao embotamento da experiência, ao esvaziamento da subjetividade. O que se sente é silenciado – e não elaborado. E, ainda que alguém achasse que vale a pena se anestesiar da condição humana, o efeito do remédio, como bem sabemos, é temporário. 


Para algumas pessoas, encontrar médicos que resolvem tudo apenas com pílulas vai ao encontro de suas próprias crenças – e de sua necessidade de proteção. É mais fácil acreditar ser vítimas de uma doença, uma disfunção que está fora deles, a pensar que é um pouco mais complexo e mais difícil de lidar do que isso. É mais fácil do que aceitar que ele, como sujeito psíquico, está implicado neste mal-estar. Eu tomo remédio e não preciso pensar que algo me incomoda. Eu engulo uma pílula e não preciso lidar com a inadequação que me faz sofrer. 


É possível compreender que, para quem já está na contramão do mundo e é visto muitas vezes como um estorvo, ajuda não ter ainda mais essa “culpa”. Tranqüiliza pensar que aquela dor que está sempre ali foi causada por uma disfunção involuntária dos neurotransmissores. E que pode ser resolvida com um comprimido. 


O problema é que a realidade mostra que não é tão simples assim. Quem já fez tratamento com antidepressivos sabe que “curar” uma depressão não é o mesmo que tratar de uma micose ou mesmo de uma pneumonia. Não basta tomar remédio: é preciso expressar a dor, é necessário elaborar o sofrimento e, em geral, mudar a vida ou a forma de olhar para a vida e para si mesmo. 


Ao conversar com minha filha, também psicanalista, sobre esse tema, ela fez um comentário que cabe neste contexto. “É curioso como os filmes de ficção científica sempre usaram aquela imagem terrorífica de seres humanos levando uma injeção na nuca e se tornando embotados. Isso era assustador e nos assustava”, disse. “Agora, o que assustava passou a ser a vontade das pessoas. Elas querem tomar uma pílula, ou uma injeção na nuca, e ficar embotadas.” 


Maria Rita sugere que vale a pena para todos – e não apenas para os depressivos – pensar o que a depressão está nos dizendo sobre nosso mundo. É isto ou continuar assistindo, impotentes, ao crescimento da epidemia, que atinge não apenas adultos, mas adolescentes e crianças, cada vez mais cedo. É preciso prestar atenção nesse mal-estar no mundo, escutá-lo, de verdade e com verdade, sem cair nos contos de fadas contemporâneos que transformam todos os monstros em déficits bioquímicos. Ao contrário de todas as profecias, a indústria farmacêutica não vai nos salvar de uma vida sem vida. 


O livro de Maria Rita Kehl é complexo e vai muito além destas minhas primeiras interpretações. Uma das questões mais originais é a relação entre a depressão e o tempo. O depressivo seria também aquele que se recusa a se inserir no tempo do Outro. O nome do livro – O Tempo e o Cão – vem da experiência pessoal da psicanalista, ao atropelar um cachorro na estrada. Ela viu o cachorro, mas a velocidade em que estava a impedia de parar ou desviar completamente dele. Conseguiu apenas não matá-lo. Logo, o animal, cambaleando rumo ao acostamento, ficou para trás no espelho retrovisor. 


É isso o que acontece com as nossas experiências na velocidade ditada pela nossa época. Diz Maria Rita: “Mal nos damos conta dela, a banal velocidade da vida, até que algum mau encontro venha revelar a sua face mortífera. Mortífera não apenas contra a vida do corpo, em casos extremos, mas também contra a delicadeza inegociável da vida psíquica. (...) Seu esquecimento (do cão) se somaria ao apagamento de milhares de outras percepções instantâneas às quais nos limitamos a reagir rapidamente para em seguida, com igual rapidez, esquecê-las. (...) Do mau encontro que poderia ter acabado com a vida daquele cão, resultou uma ligeira mancha escura no meu pára-choque. (...) O acidente da estrada me fez refletir a respeito da relação entre as depressões e a experiência do tempo, que na contemporaneidade praticamente se resume à experiência da velocidade”. 


Por coincidência, estava zapeando na TV ontem à noite (domingo), quando encontrei a psicanalista no Café Filosófico da TV Cultura, um dos melhores programas da TV aberta. Lá, ela fez algumas considerações muito interessantes. Anotei duas delas para acrescentar a esta coluna. “Nos dizem que ‘tempo é dinheiro’. Ora, tempo não é dinheiro. Dizer que tempo é dinheiro é uma violência”, afirmou Maria Rita. “Tempo é o tecido de nossas vidas”. E um pouco mais adiante: “Em qualquer sociedade, o poder se instaura por alguma forma de controle do tempo”. 


Quem quiser ler o livro de Maria Rita Kehl precisa saber que é um livro difícil. Não se lê fácil como uma daquelas obras de auto-ajuda. Exige tempo, parada, reflexão. Para quem é leigo, é preciso ler e reler alguns trechos, voltar. Talvez até pular algumas partes que, depois de ler e voltar e reler, ainda assim não alcançamos. Mas vale todo o esforço. 


Aprendi algo sobre isso, na semana passada, ao ouvir Benjamin Moser, autor da recém-lançada (e excelente!) Clarice, (CosacNaify, 2009), uma biografia de Clarice Lispector. Ele contou que os livros que mais gosta da escritora são os mais difíceis, aqueles que teve de ler para escrever a biografia, e não os primeiros que leu e compreendeu de imediato. Então, disse algo mais ou menos assim: “Os escritores têm de nos alcançar, mas nós também temos de alcançar os escritores”. 



Achei genial. E acho que é isso. Vale a pena essa busca para alcançar alguns escritores e suas vozes a princípio obscuras. Alcançar alguém é sempre uma experiência rica – e intransferível. O livro de Maria Rita Kehl, assim como os livros mais estranhos de Clarice Lispector, vale porque ao final deste esforço há uma voz original, dissonante de todas as mesmices que ouvimos – e eventualmente repetimos. 



Para mim, que acordo todos os dias – e especialmente na segunda-feira – pensando em como não sentir mal-estar em um mundo tão brutal, que exige uma velocidade que me rouba a vida, fez todo o sentido. Só consigo viver por que a cada dia minha questão crucial não é me adaptar a um tempo que não é o meu. Mas encontrar formas de me recusar a viver segundo valores que para mim não fazem sentido. É esta busca – e esta insubordinação – que me mantém em pé, ainda que cambaleando, às vezes, como o cachorro atropelado por Maria Rita, e até caindo, de tempos em tempos. 



Dias atrás, ao conversar com meu amigo Toco Lenzi, um homem que como poucos recusa os valores e a velocidade desta época, ele me contou uma história de sua última passagem pelo Saara, na Mauritânia, que cabe aqui. Toco atravessa o Saara a pé, da Mauritânia a Tunísia, em etapas e sem nenhuma pressa, com nenhum outro objetivo além de viver a experiência de atravessar o Saara a pé. Eu o acompanhei na primeira parte desta jornada para escrever um livro que ainda está no começo. 



Toco conheceu um tuaregue que havia deixado o Saara e vivido – muito bem – na Europa. Apesar do que teria sido considerado um sucesso pela maioria de nós, ele resolveu voltar ao deserto e ao antigo modo de vida. Toco perguntou a razão. Ele respondeu: "Vocês têm relógio, nós temos tempo".



(Eliane Brum escreve às segundas-feiras.) Você pode comentar na coluna dela, clicando aqui! Mas não deixe de comentar aqui no blog!

Permitir-me

Hoje estou um pouco apreensivo. Minha irmã vai viajar. Ficarei eu e meu pai outra vez. Agora a namorada dele também estará aqui. Ela havia viajado na semana passada. Mas estamos em uma fase boa, então não há um motivo para tanta apreensão. Pelo menos eu consegui vencer esse medo. De manhã cedo saí da cama, fiz o meu café-da-manhã, já encontrei o meu pai e a minha irmã, que está se preparando para viajar. E só coisas boas aconteceram.

Então parei para refletir como eu trago comigo sensações de fatos passados. É como se eu estivesse condicionado às brigas e discussões, que já aconteceram tantas vezes. Com clareza a respeito disso, quando meu pai me chamou, ao invés de responder com má vontade, respondi desarmado. Preciso disso, sabe? Estar desarmado. Desarmado para a vida. Enxergar em cada um dos meus companheiros da jornada terrena um irmão. Um espelho de mim. Colocar-me no lugar deles, quando eles errarem. Será que eu não agiria da mesma maneira? Tentar levar a vida com mais leveza. Mais amor. Amor pela vida. Preciso associar o amor pela vida e pelas pessoas ao amor-próprio. À consciência do meu próprio valor. Agir acreditando em mim. Porque estar desarmado para a vida é estar aberto a novas possibilidades, novos sabores. Preciso disso. No momento, acho que é o que eu mais preciso. Mas para isso é preciso me permitir!